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Transformações sociais dos séculos XVI - XIX: O modelo europeu de sociedade medieval e o novo modelo que surge no pós-renascimento.


 

O modelo europeu de sociedade medieval estava fundamentado no feudalismo. O feudalismo foi um modo de produção que durou toda a baixa idade média, do século V ao X, se estendendo em algumas regiões até o século XIX, como na Rússia por exemplo.

O feudalismo teve início na Europa com o colapso do Império Romano (476 d.c) e a invasão dos bárbaros germânicos. Dessa fusão surgiu uma nova forma de economia, de cultura, de sociedade e de política. Fundamentava-se o feudalismo na exploração da terra, produção agrícola servil e pastoreio. Nessa sociedade existia moeda, mas era pouco usada. Os feudos eram autossuficientes e havia pouco comércio entre eles. Utilizava-se o escambo (troca de mercadorias) para a satisfação das necessidades. Dessa forma a diferenciação entre os indivíduos no que se refere à riqueza e poder não se dava pela posse da moeda, mas da terra. Os camponeses, chamados de servos, responsáveis pela produção agrícola estavam presos à terra, dividida em feudos, que eram grandes extensões de terra, e serviam aos proprietários, chamados de senhores feudais.

A sociedade feudal era do tipo estamental e estratificada, ou seja, não havia mobilidade social nem territorial. A base da sociedade era constituída pelos servos e artesãos livres, estes últimos responsáveis pela produção artesanal de utensílios, armas e ferramentas.  Tinham por obrigação o trabalho de sustento da nobreza e do clero, o pagamento de impostos, corveias e o pagamento de rendas. Eram totalmente dependentes dos seus respectivos senhores feudais.

A elite era formada pela nobreza (reis e senhores feudais) e pelo clero (igreja católica) que possuía grande poder político e econômico, pois eram os maiores proprietários de terra da Europa medieval e exerciam grande influência religiosa e dominação ideológica na sociedade medieval. A igreja disseminava a ideia de que Deus criou os clérigos para orar, os camponeses para produzir e os nobres para proteger a todos. A igreja, através do Santo Ofício submetia à força todos os que não aceitavam o poder da Igreja.

Os reis, na prática, não possuíam poder político, o qual era detido pelos senhores feudais, que possuíam, além da terra, poder militar e autonomia para cobrar impostos e se responsabilizar pela aplicação da justiça em seus feudos. Os feudos eram concedidos por relações de vassalagem, onde os suseranos repassavam a terra a seus vassalos que lhe deviam fidelidade e serviço militar em troca de proteção.

Entre os séculos XI e XIII houve um declínio do feudalismo, em função do fim das invasões bárbaras. Ocorreu um aumento da produção dos feudos que gerou um excedente que passou a ser comercializado pelos servos em feiras no entorno dos castelos (burgos) e surgiram os comerciantes chamados burgueses que enriqueceram com o comércio. Esse comércio acabou provocando o renascimento das cidades, que com o tempo e o empenho dos burgueses, tornaram-se independentes dos feudos. O comércio também se desenvolveu fora dos feudos o que levou a uma melhoria do sistema de distribuição dos produtos e ao uso generalizado da moeda para as transações. As cruzadas que tinham o objetivo de libertar os locais santos de Jerusalém do domínio muçulmano também contribuíram para liberar as rotas de comércio da Europa com a Ásia, antes dominadas pelos árabes. Surgiram as primeiras casas bancárias, as associações de artesãos (guildas) e o trabalho assalariado. Os burgueses se aliaram aos reis contra os senhores feudais para obterem proteção e a necessária segurança para ampliarem os seus negócios e os reis para obterem recursos para a formação de exércitos reais e a centralização do poder. Formaram-se os primeiros Estados Nacionais. A fome, as doenças e a guerra diminuíram a população e a arrecadação de impostos dos senhores feudais que aumentaram impostos e causaram a revolta dos servos. Todos esses fatores levaram à decadência do feudalismo e ao aumento do poder dos reis, os quais se tornaram absolutistas. Esses elementos provocaram a gênese de um novo modo de produção: o capitalismo. O enriquecimento da burguesia transformou a sociedade feudal imóvel numa sociedade onde há mobilidade social, uma vez que o poder passou às mãos dos proprietários do dinheiro e não da terra.

Esse renascimento comercial, com as características que já vimos, combinado com o renascimento cultural gerou nos séculos XIV a XVI um novo tipo se sociedade, cujas principais características eram:

- antropocentrismo: o homem e não Deus como o centro irradiador do conhecimento;

- humanismo: conhecimento humano como universal;

- otimismo: visão otimista da vida por acreditar na capacidade criadora do homem;

- racionalismo: uso da razão para explicar os fenômenos naturais, que não eram mais vistos apenas como fruto da vontade divina;

- retomada dos valores da antiguidade clássica, sem preocupação com a moralidade cristã;

- surgimento do protestantismo, que foi adotado pelos reis e pela burguesia com o objetivo de diminuir o poder da igreja católica, tomar as suas terras e gerar um ambiente propício para o comércio e o enriquecimento da burguesia.

Todos esses fatores geraram um tipo de sociedade bem diferente da sociedade feudal, com as características já mencionadas.

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