O
objetivo deste texto é sintetizar as principais diferenças entre as póleis de
Esparta e Atenas, na Grécia Antiga, especialmente no que se refere aos seus
respectivos sistemas educacionais e a relação destas diferenças com o
desenvolvimento da Filosofia. Baseamo-nos nas fontes abaixo indicadas.
A
Civilização Grega se forma na Península Balcânica, a partir da Civilização
Creto-Micênica, que desenvolve a base da língua e da mitologia grega (séculos
XX a.C a XV a.C.). Entre os séculos XIV a.C. e XII a.C., o povo Dório, também
de origem Micênica, expulsou os Creto-Micênicos para o norte da Península
Balcânica (região montanhosa). Ocorreu, então, a chamada primeira diáspora
grega. O povo Creto-Micênico dividiu-se em muitos e pequenos povoados, isolados
e independentes, mas com a mesma língua e mesma religião; em outras palavras,
com a mesma cultura. Com o crescimento e desenvolvimento desses povoados, que
se tornaram os chamados “demos”, ocorre a segunda diáspora grega. A falta de
terras leva os gregos a colonizarem outras áreas na região do Mar Egeu e do
Mediterrâneo. Surgem, então, a partir do desenvolvimento dos “demos”, as póleis,
as cidades-estado gregas, dentre as quais Atenas. Esparta, ao contrário, foi
fundada pelos Dórios, que escravizaram aqueles Creto-Micênicos que tentaram se
defender e admitiram em sua sociedade aqueles que não se defenderam, mas não na
qualidade de cidadãos. Apenas os descendentes dos Dórios, os Esparciatas, podiam
adquirir a condição de cidadãos espartanos, após o serviço militar. Enquanto
Atenas desenvolveu sua política evoluindo da monarquia para a oligarquia e,
finalmente, para a democracia e explorou o comércio internacional; Esparta
cristalizou-se na estrutura em que foi criada, uma diarquia militarista, cuja
economia baseava-se na agricultura. Sendo as culturas de Esparta e Atenas,
bastante diferentes, apesar da origem Micênica comum, essas póleis optaram por
sistemas educacionais quase antagônicos, como veremos.
Esparta,
com sua cultura militarista tinha um sistema educacional baseado na “agogé”, ou
seja, no “adestramento”, no “treinamento”. O objetivo era formar guerreiros
para defender a coletividade, entenda-se por coletividade a classe dos
Esparciatas. Todo Esparciata (elite latifundiária de origem Dórica) quando
nascia era examinado por um Conselho que verificava suas condições físicas. Se
o bebê fosse considerado fraco demais ou nascesse com alguma imperfeição era
imediatamente eliminado. O sistema buscava a pureza racial. Era um sistema
Eugênico, portanto. Caso sobrevivesse, o recém-nascido ficava sob os cuidados
da mãe até os 7 anos. Aos 8 era tirado da família e levado para um campo de
treinamento, onde iniciava sua vida militar. Até os 11 anos era mantido em
condições hostís, passando necessidades, frio, fome e exposto a castigos
constantes. Aos 12 anos era iniciado nas letras, cálculos e canto de hinos
militares. Aos 16 anos iniciava o adestramento nas armas e na guerra. A partir
dos 20 servia o exército espartano. Após os 30 anos tinha permissão para casar
e ter filhos, recebia terras e o título de Hoplita (cidadão espartano). Como
resultado, esse sistema educacional formava homens silenciosos, que chegaram a
desenvolver um tipo de linguagem chamada laconismo, na qual se expressavam com
um mínimo de palavras. Isso, obviamente, dificultava o desenvolvimento das
ideias e, consequentemente, da filosofia. O sistema formava também homens
disciplinados, anti-intelectuais e anti-individualistas, obedientes aos seus superiores
hierárquicos, fortes, vigorosos, imunes à dor, resistentes às intempéries e extremamente
dedicados ao Estado. As mulheres tinham uma função importante na sociedade:
parir crianças perfeitas. Elas participavam da política, administravam os seus
lares e recebiam, também, algum treinamento militar (arco e flecha). O sistema
educacional era totalmente estatal.
Atenas, ao
contrário, tinha outros objetivos para a educação. A ambição ateniense era
produzir cidadãos que reunissem num só corpo, a beleza física e moral, ou seja,
almejavam a “formação integral do indivíduo”. Após o surgimento da democracia,
Atenas adotou um sistema educacional privado, onde o aluno tornava-se discípulo
de um mestre que administrava lições de gramática e os primeiros cálculos.
Posteriormente surgiram as primeiras escolas pagas. Os jovens atenienses estudavam
dos 7 aos 18 anos: música, artes plásticas, filosofia, etc. As atividades
físicas, na forma de ginástica e práticas esportivas, eram fundamentais. A
espada deu lugar às palavras. Concluída a escolaridade convencional, aos 18
anos, o jovem ateniense podia alternar suas obrigações militares com o
aprendizado superior, através de um filósofo sofista, que lhe ensinava a
gramática, a retórica e a lógica. As mulheres não estudavam e apenas cuidavam
do lar.
Atenas, em
seu apogeu econômico, atraiu artistas, poetas, sábios e professores de várias
partes do mundo helênico. Essa ebulição cultural juntamente com um sistema
educacional baseado na educação privada, voltado para a aristocracia e centrado
numa formação integral do indivíduo, criou as condições necessárias ao profundo
desenvolvimento da filosofia ocorrido nessa Pólis, o que, como vimos, não poderia
ter ocorrido em Esparta.
Referências:
- “Prof Rodolfo - Antiguidade Clássica - Introdução à
Civilização Grega”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=91g7p6VvuPE . Acessado em 23/08/15;
- “Prof Rodolfo - Antiguidade Clássica -
Esparta.mp4”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=AdkgZdz-TJQ . Acessado em 23/08/2015;
- “ATENAS CLÁSSICA - Prof Rodolfo”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=b83vPhrIBkI . Acessado em 23/08/15.
- Voltaire Schilling Edição: André Roca – Portal Terra – Educação, disponível
em http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/grecia-esparta-e-atenas-como-modelos-de-educacao,b1080231a76da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
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