Dados da CEPAL
(Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – órgão da ONU) indicam
que, no ano 2000, o Brasil possuía 53 milhões de pessoas abaixo da linha da
pobreza, das quais cerca de 22 milhões eram indigentes (fonte: www.fd.uc.pt/~anunes/pdfs/conf
1.pdf) . Devemos lembrar que políticas neoliberais foram aplicadas no país
sistematicamente até 2003. Taxas de desemprego e miséria caminham de braços
dados. O desemprego no ano 2000 era de 12,2%, o que explica o grande número de
miseráveis e indigentes no país. Por sua vez, a miséria leva à morte por
doença, por subnutrição, por violência, etc. O desemprego também é causa de
depressão, sendo que, no Brasil, 10,2% dos desempregados sofrem desse mal
(fonte:Marques, Adrea. www.nota10.com.br ). Por sua vez a
depressão é causa de aproximadamente 20% dos suicídios no mundo (fonte: Salles,
Karine. www.boavontade.com/pt). Com
o fim das políticas neoliberais em 2003 e a aplicação de políticas keynesianas,
o quadro mudou. Em 2015, a pobreza extrema no Brasil havia caído para 2,8% da
população e o índice de pobreza para 7,3%, uma redução de 70% em relação a 2004http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/11/um-pais-menos-desigual-pobreza-extrema-cai-a-2-8-da-populacao. O índice de desemprego em 2014 era de apenas
4,8% (fonte: https://brasilfatosedados.wordpress.com/2010/09/09/desemprego-evolucao1986-2010-2/
). Com a queda da presidenta Dilma Rousseff e a volta das políticas neoliberais,
o desemprego no Brasil cresceu meteoricamente, chegando, no terceiro trimestre
de 2016, a 11,8% , o que significa um contingente de 23 milhões de brasileiros,
sendo o desemprego ampliado (que inclui quem faz bico ou deixou de procurar
emprego) calculado em 21,2%, que é a sexta maior taxa do mundo. Há, portanto,
uma clara correlação entre o maior ou menor culto ao deus mercado, cujo
principal ritual é a aplicação de política econômica do tipo neoliberal,
caracterizada pela desregulamentação de mercados, menor participação estatal na
economia,maior concentração de renda,
desemprego crescente e conseqüentemente aumento da miséria.
Considerando
os dados econômicos coletados, fica clara a alta correlação estatística entre a
aplicação de políticas econômicas neoliberais e o aumento do desemprego e com
ele da miséria e de suas sangrentas conseqüências. A partir do momento em que
tais políticas foram substituídas por outras, de caráter keynesiano ou
social-democrata, houve imediatamente uma melhora dos indicadores de desemprego
e aumento do padrão de vida de grandes contingentes de pessoas, especialmente
dos mais pobres e miseráveis. Com a volta das políticas neoliberais, após a
queda da Presidenta Dilma Roussef, temosnovamente um aumento das taxas de
desemprego e o crescimento do contingente de pobres e miseráveis no Brasil.
Tomando
por referência o pensamento de Frei Betto, Horkheimer e MoSung e o conteúdo do
LD, temos que o “deus mercado” possui um aspecto vampiresco que exige oferendas
em sacrifício, para que mantenha seu bom humor, sua calma. Essa calma significa
que o mercado está em pleno e perfeito funcionamento. A principal
característica dessa situação de calma é a permanente acumulação e concentração
de capital, ou seja, o crescimento do abismo entre a massa de humanos restritos
às condições mínimas de reprodução da própria vida orgânica e uma minoria
ínfima de indivíduos riquíssimos. Para a manutenção, nas palavras de Frei
Betto, desse “bom humor do mercado”, necessário o sacrifício de crescente leva
de vítimas. O sangue humano é, literalmente, necessário. O deus mercado, como o
Deus judaico-cristão do antigo testamento, conduz seus fiéis pelo medo de sua
espada mortífera. Se há esperança em mudar essa situação? Entendemos que sim.
Os próprios dados estatísticos nos dizem isso. Nos anos em que as políticas
neoliberais mais selvagens foram restringidas e substituídas por políticas
sociais, os indicadores de desemprego, miséria, pobreza e até de saúde pública,
considerando-se a correlação entre esses elementos, já descrita, melhoraram
extraordinariamente. Para o economista e teólogo Franz Hinkelammert, o
resultado das políticas neoliberais e o conseqüente sacrifício humano e também
da natureza não violam nenhuma lei. A corrupção é, portanto, legal. A Bolsa de
Valores e os bancos equiparam-se a armas de destruição em massa. Para esse
pensador, uma saída seria o desenvolvimento de uma filosofia, um pensar, que contenha
uma certa dose de rebeldia a favor de um melhor viver para todos. Nessa linha
de raciocínio, cita a teologia da libertação que, para ele, surge como a grande
heresia à religião cristã dominante, mas que é, porém, considerado um fenômeno
oxigenador e crítico. Essas teologias da libertação indicam a possibilidade de
um outro mundo possível, voltado a melhoria da vida do ser humano. Essas
teologias libertadoras e progressistas seriam capazes de se integrar nas lutas
contra-hegemônicas contra a globalização neoliberal. A escolha entre o medo e a
esperança é, portanto, política. Isso está evidenciado na nossa história
recente, inclusive sob amparo estatístico. Em outras palavras, há que se
reinventar e atualizar Friedrich Nietzsche e anunciar aos quatro cantos: “O
deus mercado está morto!”. Antes, porém, temos que, efetivamente, matá-lo. E
essa batalha dar-se-á no campo político, onde as teologias da libertação
desempenhariam um papel fundamental.
Referências:
Gonçalves,
Jaci Rocha. Deus e Religião: do renascimento ao contemporâneo: livro didático.
Palhoça: UnisulVirtual; 2014.
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