O filme, cuja proposta
parecia ser discutir, num ambiente acadêmico,a questão da existência de Deus,
não passa, na prática, de um filme de louvação, onde a fé cristã e protestante
é a única digna de crédito. Isso fica cristalino quando, desde o início, os
heróis e vilões ficam claramente evidenciados. De um lado, os ateus (o
professor, o advogado inescrupuloso e sua namorada jornalista), intransigentes,
arrogantes, egoístas, agressivos, orgulhosos e insensíveis. De outro, os
cristãos, sempre calmos, humildes, bonitos, simpáticos, de moral ilibada. São
colocados na posição de vítimas dos ateus cruéis. Há, ainda, as ovelhas
desgarradas: um chinês, de pai ateu; uma garota muçulmana, cujo pai é muito
violento e fundamentalista e a jornalista, depois de ter um câncer
diagnosticado. Estes também sempre acossados pelos ateus vilões ou por pessoas
de outras religiões, como o pai muçulmano e muito violento. É claro que as
ovelhas, ao final, encontram o caminho da salvação na fé cristã, o único
caminho que o enredo do filme permite. Perde-se uma boa oportunidade de se
refletir sobre o tema proposto no título do filme e também sobre questões
correlatas, como a do livre arbítrio, da convivência com as outras religiões, a
moral independente de religiões, etc. . Por fim, todos os ateus pagam pela sua
heresia e se arrependem. O filme termina num concerto gospel que reúne todos os
fiéis e as ovelhas agora devidamente encaminhadas e com a morte do professor,
também devidamente encaminhado pelo pastor local, pouco antes do seu último
suspiro. O debate “filosófico” na verdade não ocorre.
Um dos temas que
podemos abordar em relação ao filme é a questão do fundamentalismo religioso.
Consideramos a conceituação de Zilles e Boff (LD p.84-85) .No filme, o
fundamentalismo está muito presente, principalmente na caracterização
preconceituosa da família muçulmana, com a garota obrigada a usar véu na
universidade, o pai violento, o irmão submisso. Temos também todo o corpo
docente da universidade formada, exclusivamente, por professores ateus, num
claro exagero. Embora o filme procure retratar o fundamentalismo nos
personagens de outras religiões ou sem religião, na verdade esse
comportamento é mais evidente nos próprios personagens cristãos.De fato, para
os cristãos não há outro caminho a não ser aquele determinado pelo seu livro
sagrado. Inclusive, há referência acerca do criacionismo, ou seja, o ensino da
teoria de que todas as coisas foram criadas por Deus (o dos cristãos) em
detrimento da teoria científica evolucionista. Todos aqueles que não seguiram
os dogmas religiosos pregados acabaram mal, o professor morto, a jornalista em
estado terminal, o advogado sozinho e arrependido, embora tenham se arrependido
do pecado de não se juntarem ao povo escolhido a tempo. Contrastando com esses
personagens, temos todos os outros personagens cristãos, inclusive os
recém-convertidos, participando de um final apoteótico num grande show gospel,
com a presença de um empresário que usa uma bandana com motivos da bandeira do
país, no melhor estilo estadunidense, e onde o sagrado confunde-se com os
valores da propriedade privada e do livre mercado, no que Boff chama de
“marketing da fé” (LD p.92).
Referências:
Gonçalves,
Jaci Rocha. Deus e Religião: do
renascimento ao contemporâneo: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual;
2014.
Deus não está
morto. 2014. 1h52min. Direção: Harold Cronk.
Pure Flix. e youtube no link https://vimeo.com/160452199
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