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O conceito de corrupção, em Montesquieu.

Para Montesquieu não é apenas necessária a participação dos homens na vida pública e política, é preciso que se orgulhem dessa participação e, conseqüentemente, exerçam a virtude política. É necessário que o poder seja fragmentado, dividido, para que não fique concentrado nas mãos de um único indivíduo ou grupo. Mesmo com essa fragmentação, o poder pode ser exercitado de forma que o interesse particular sobreponha-se ao da sociedade. Para o filósofo isso é corrupção. É corrupto o cidadão que, no exercício do poder, utiliza-o em benefício próprio em detrimento do interesse da sociedade (SCHULZE, 2012, p. 26-27). No momento em que ocorre esse tipo de comportamento, falta ao cidadão a virtude política e ele corrompe-se. A corrupção para Montesquieu consiste na posição política do corrompido, não na corrupção do poder político que lhe foi concedido pela sociedade. A corrupção abarca, portanto, valores do cidadão e da própria política. A corrupção se dá na forma de governo e no agente político. A corrupção, na forma colocada pelo filósofo abala tanto o Estado enquanto estrutura social quanto o ser político. A corrupção entendida como degradação de valores políticos e humanos é um mal a ser evitado.
A resposta de Montesquieu para esse tipo de corrupção, em que o interesse privado se sobrepõe ao público seria a separação de poderes em judiciário, legislativo e executivo, bem como a diferenciação da função de cada um deles. Essas seriam as maiores ferramentas propostas para o exercício adequado do poder, porque essa divisão não deixaria todo o poder nas mãos de um único individuo e agiria como freio às paixões responsáveis a levar o indivíduo a sobrepor os seus interesses ao interesse social. Ao mesmo tempo, os poderes se freiam entre sí porque se autorregulam. Um poder pode fiscalizar e limitar a ação dos outros. Ninguém governa sozinho.
Referências bibliográficas:

SCHULZE, Carmelita. História da Filosofia IV: livro didático; design institucional Isabel Rambo. Palhoça: UnisulVirtual, 2012.

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