Pular para o conteúdo principal

A imagem tradicional da ciência: características


A partir do século XVI, após a primeira revolução científica, a Ciência foi se tornando, paulatinamente, independente das outras formas de conhecimento, como a Filosofia e a Religião. Com o advento do Iluminismo e sua meta do esclarecimento, ou seja, o objetivo de dissolver mitos e alcançar o progresso no conhecimento e domínio da natureza, no aperfeiçoamento moral e na emancipação social, a Ciência foi se tornando mais e mais importante. A partir dessa visão iluminista e, posteriormente, do positivismo, foi sendo gestada a imagem tradicional da ciência que está impregnada até hoje na sociedade, embora essa visão tenha sido contestada e criticada já há mais de meio século nos meios acadêmicos, notadamente pelos integrantes da Escola de Frankfurt.
A ciência, na ótica dos iluministas e positivistas, é uma forma de conhecimento de caráter metódico, ou seja, que adota um método de pesquisa como instrumento para alcançar seus objetivos. Entenda-se por método o caminho, a sequência de procedimentos experimentais, empíricos, a serem adotados durante a execução da pesquisa. O rigor do método tem por objetivo o desenvolvimento de uma forma de conhecimento preciso, confiável, aberto, sujeito à crítica da comunidade científica e que garantiria a objetividade do conhecimento científico. A essa característica de objetividade da ciência adiciona-se qualidades como neutralidade, imparcialidade e desinteresse. A ciência pela ciência. A forma mais elevada do uso da razão em direção à verdade. A racionalidade, dessa forma, seria o caminho do verdadeiro conhecimento, que avançaria cumulativa e progressivamente no caminho da compreensão do universo. A ciência seria, assim, a fonte do conhecimento racional, metódico, objetivo, confiável, preciso, verdadeiro, neutro (independente de opiniões) e progressivo.
Após a crítica a essa imagem tradicional da ciência, parece claro nos dias de hoje, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, que a ciência mantém uma relação íntima com o desenvolvimento industrial, econômico e bélico das nações, especialmente as mais desenvolvidas, de forma que várias de suas características tradicionais se perderam.
Referências bibliográficas:
CARDOSO, E. M.; ELIAS, E.O. As aporias do projeto moderno: considerações à luz do pensamento de Adorno. IN: Educação em Revista, n.6, p.23-26, 2005.
TARGA, Dante Carvalho. Ciência e Sociedade: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2014.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Perspectivas Pedagógicas: Essencialismo, Naturalismo e Crítica histórico-social

Educação, de forma genérica, pode ser entendida como o ato de transmitir às novas gerações um determinado conjunto de valores e conhecimentos. Essa atividade educativa assume, em cada época e lugar, formas distintas. Podemos falar, assim, em diferentes pedagogias. Para compreendê-las há que se interpretá-las no seu contexto histórico e à luz dos valores e ideias que as fundamentam. Dessa maneira, na antiguidade, a pedagogia conhecida e utilizada pelos povos hindus, persas, chineses e egípcios era tradicionalista e consistia na transmissão de uma doutrina sagrada, cujo objetivo era orientar o jovem na busca da felicidade e da virtude. Na Grécia antiga, a educação como transmissão da cultura, da história e da religião era baseada na perspectiva mítica, sendo difundida através dos poemas de Homero (A Odisseia e A Ilíada). A passagem do mito à razão, através da reflexão filosófica, deu-se com os pensadores pré-socráticos e levou ao surgimento da primeira instituição de ensino com caracter...

O Jardineiro Fiel: uma breve análise do filme à luz do imperativo categórico de Kant.

A primeira cena do filme mostra o assassinato brutal, ocorrido no interior do Quênia, de Tessa, uma ativista política casada com Justin, um diplomata inglês de segundo escalão e jardineiro por hobby. Inconformado com a morte da mulher e com a inércia das autoridades locais e de seu próprio consulado, Justin passa a investigar as circunstâncias em que ocorreu o assassinato. A ativista suspeitava de uma trama macabra envolvendo uma indústria farmacêutica europeia, além de autoridades do Quênia e do próprio governo inglês. Justin, a partir de arquivos de computador e documentos encontrados entre os objetos deixados por Tessa, descobre que quenianos miseráveis estavam, sem seu conhecimento e consentimento, sendo usados como cobaias em experimentos com um novo fármaco. Muitas dessas pobres pessoas morriam após ingerirem o medicamento. As autoridades locais e a empresa dificultavam o acesso ao local e aos parentes das vítimas. A empresa privada e os governos envolvidos tinham interesse no d...

Diferenças entre o pensamento mítico e o filosófico

O pensamento mítico é uma forma de explicação e compreensão da realidade. Toda a sociedade, desde as mais primitivas, possuem seus mitos, que são narrativas, passadas de geração para geração, contendo elementos que podem ser utilizados na explicação de fenômenos naturais ou na prescrição de condutas morais. Os mitos podem ser apresentados como elaborados por ancestrais antigos, indivíduos extraordinários ou por seres ou poderes sobrenaturais. Os mitos possuem as seguintes características: - são fantasias, alegorias explicativas da realidade. Representações simbólicas e não exatas da realidade. - são maleáveis. Sua narrativa não é fixa, podendo variar de acordo com os objetivos de quem faz a narrativa. Como passam de geração para geração, vão sendo alterados com o tempo. - o mito utiliza elementos sobrenaturais para a explicação dos fenômenos naturais. Quando não há possibilidade de explicação racional para um evento, o mito como explicação sobrenatural é uma forma de amenizar ...