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A concepção de poder em Michel Foucault


Ao conceber o conceito de poder, Foucault parte de duas hipóteses, a do poder como repressão e a do poder como guerra. Ambas as hipóteses representam críticas ao economismo, ou seja, Foucault propõe instrumentos diferentes de análise onde o poder não é modelado exclusivamente pelas relações econômicas como nas concepções marxista ou jurídica clássica. Na primeira hipótese, também chamada hipótese de Reich, o filósofo propõe que o poder não é um bem que se troca, se dá ou se retoma. Não é uma coisa. O poder não se tem, se exercita. Poder é exercício, portanto, poder é o que reprime. O poder reprime a natureza, os instintos, as classes sociais, os indivíduos. Analisar o poder é em Foucault, analisar os mecanismos de repressão.  A segunda hipótese, também chamada de hipótese de Nietzche, propõe que o poder não é manutenção das relações econômicas, mas é uma relação de força. Dessa forma o poder não deve ser analisado em termos de contrato, alienação, recondução de relações de produção, como na concepção marxista, mas em termos de enfrentamento, de combate, de guerra. Em Foucault, insistimos, não existe o poder como coisa, mas relações de poder que como uma força invisível, atua no âmbito psicológico, como uma força de coação, disciplinadora e controladora dos indivíduos, na hipótese de Reich. Na hipótese de Nietzche, a guerra não significa necessariamente o uso de armas bélicas, mas o uso de estratégias, táticas, expediente a ser utilizado nos exercícios dos atores no palco do poder político. Para Foucault, as duas hipóteses conciliam-se, uma vez que a repressão é a consequência política da guerra, de forma que há certa supremacia da hipótese da guerra sobre a da repressão. Fica clara a grande influência de Nietzche sobre o filósofo francês. O poder, assim, é exercido através dos instrumentos bélicos, ideológicos e estatais submetendo os indivíduos de uma forma sofisticada, invisível, sem que estes se apercebam disso.  Em síntese, a partir dessas duas hipóteses que se complementam, para Foucault “o poder é a guerra continuada por outros meios”.
Referências bibliográficas:
MARQUES, Carlos Euclides... [et al.]. Filosofia Política II: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2011.

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