Pular para o conteúdo principal

A Universidade Brasileira: uma análise histórica.

     Até a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, os luso-brasileiros cursavam o ensino superior na Europa, principalmente na Universidade de Coimbra. Naquele ano, D. João VI criou a Faculdade de Medicina da Bahia. Em 1854 foram criadas as Faculdades de Direito de São Paulo e de Recife. Em 1874, no Rio de Janeiro, a Escola Militar e a Politécnica, além da de Engenharia de Ouro Preto. O ensino superior brasileiro limitava-se aos moldes da escola superior. O processo de transformação do ensino superior para a condição de universidade ocorreu já na Era Vargas, na década de 1930, com o agrupamento de três ou mais faculdades. Surgem então, em 1934, as Universidades de São Paulo e de Minas Gerais. A ideia de uma universidade como centro de livre discussão de ideias nasce com Anísio Teixeira em 1935. A criação das universidades federais, como as que conhecemos hoje, ocorreu na década de 1950 com a federalização das universidades particulares e estaduais e a ampliação do ensino superior e gratuito.
       A Universidade de Brasília, fundada em 1962, por Darcy Ribeiro, tinha por objetivo romper com o velho modelo da universidade como mero agrupamento de faculdades, mas o projeto foi abortado pela Ditadura Militar que procurou antes o controle político e ideológico do sistema educacional e limitar o ensino superior a formar mão de obra técnica para o “mercado”, leia-se: multinacionais americanas instaladas no país.
      O chamado “choque de gestão” do governo FHC provocou a expansão das universidades privadas e bloqueou a expansão do ensino público gratuito, processo que começou a ser revertido apenas no Governo Lula, com a criação do ProUNI, Projeto Universidade Para Todos.
    A CF88 e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), combinadas, estabelecem, pois, os modelos de ensino superior que se configuram hoje no Brasil. O primeiro é aquele constituído pelas universidades que devem gozar de plena autonomia didático-científica, administrativa e de gestão e que devem integrar ensino, pesquisa e extensão, os quais devem ser indissociáveis. Entende-se por ensino a transmissão de conhecimento por meio do contato sistemático com a cultura universal, que devem ser ampliados e diversificados por meio da pesquisa, através da produção de novos conhecimentos e, finalmente, a prestação de serviços à comunidade que é a extensão.
      A universidade integra, portanto, ensino, pesquisa e extensão.
    Há um segundo modelo de ensino superior, que se constitui através das faculdades isoladas e institutos de ensino superior, que se valem apenas do ensino para exercer sua função educativa. Essas instituições são, em geral, privadas e se limitam a formar mão de obra pouco mais qualificada e barata para o mercado e cujo principal escopo, quando não o único, é o lucro.
    É evidente que o primeiro modelo, o da universidade integrada, onde o grau de titulação dos professores é, geralmente, maior e onde a instituição não se limita a transferir conhecimento antigo, mas a produzir novos e a estendê-los à comunidade é muito mais efetivo. A qualidade do ensino é muito melhor, pois os alunos são preparados para produzir e transmitir os novos conhecimentos. Os professores são mais produtivos por que não se limitam a repassar os que sabem. A própria comunidade local colhe os frutos dessa relação com a universidade.
      Já o segundo modelo apenas atende aos interesses do capital, tanto nacional quanto internacional, que precisa apenas de mão de obra barata e abundante, com a qualidade apenas suficiente para as suas necessidades imediatas. Profissionais com uma leitura crítica da sociedade não são bem vindos a esse meio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Perspectivas Pedagógicas: Essencialismo, Naturalismo e Crítica histórico-social

Educação, de forma genérica, pode ser entendida como o ato de transmitir às novas gerações um determinado conjunto de valores e conhecimentos. Essa atividade educativa assume, em cada época e lugar, formas distintas. Podemos falar, assim, em diferentes pedagogias. Para compreendê-las há que se interpretá-las no seu contexto histórico e à luz dos valores e ideias que as fundamentam. Dessa maneira, na antiguidade, a pedagogia conhecida e utilizada pelos povos hindus, persas, chineses e egípcios era tradicionalista e consistia na transmissão de uma doutrina sagrada, cujo objetivo era orientar o jovem na busca da felicidade e da virtude. Na Grécia antiga, a educação como transmissão da cultura, da história e da religião era baseada na perspectiva mítica, sendo difundida através dos poemas de Homero (A Odisseia e A Ilíada). A passagem do mito à razão, através da reflexão filosófica, deu-se com os pensadores pré-socráticos e levou ao surgimento da primeira instituição de ensino com caracter...

O Jardineiro Fiel: uma breve análise do filme à luz do imperativo categórico de Kant.

A primeira cena do filme mostra o assassinato brutal, ocorrido no interior do Quênia, de Tessa, uma ativista política casada com Justin, um diplomata inglês de segundo escalão e jardineiro por hobby. Inconformado com a morte da mulher e com a inércia das autoridades locais e de seu próprio consulado, Justin passa a investigar as circunstâncias em que ocorreu o assassinato. A ativista suspeitava de uma trama macabra envolvendo uma indústria farmacêutica europeia, além de autoridades do Quênia e do próprio governo inglês. Justin, a partir de arquivos de computador e documentos encontrados entre os objetos deixados por Tessa, descobre que quenianos miseráveis estavam, sem seu conhecimento e consentimento, sendo usados como cobaias em experimentos com um novo fármaco. Muitas dessas pobres pessoas morriam após ingerirem o medicamento. As autoridades locais e a empresa dificultavam o acesso ao local e aos parentes das vítimas. A empresa privada e os governos envolvidos tinham interesse no d...

Diferenças entre o pensamento mítico e o filosófico

O pensamento mítico é uma forma de explicação e compreensão da realidade. Toda a sociedade, desde as mais primitivas, possuem seus mitos, que são narrativas, passadas de geração para geração, contendo elementos que podem ser utilizados na explicação de fenômenos naturais ou na prescrição de condutas morais. Os mitos podem ser apresentados como elaborados por ancestrais antigos, indivíduos extraordinários ou por seres ou poderes sobrenaturais. Os mitos possuem as seguintes características: - são fantasias, alegorias explicativas da realidade. Representações simbólicas e não exatas da realidade. - são maleáveis. Sua narrativa não é fixa, podendo variar de acordo com os objetivos de quem faz a narrativa. Como passam de geração para geração, vão sendo alterados com o tempo. - o mito utiliza elementos sobrenaturais para a explicação dos fenômenos naturais. Quando não há possibilidade de explicação racional para um evento, o mito como explicação sobrenatural é uma forma de amenizar ...