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Parmênides x Heráclito: visões do universo.



           A divergência entre o pensamento de Parmênides e de Heráclito se dá em relação à questão da mobilidade ou imobilidade do universo.
            Para Parmênides (530 – 460 a.C.) as coisas do universo são imutáveis. As coisas são o que são, sempre iguais, não estão sujeitas a qualquer tipo de mudança. O filósofo sintetiza este conceito na frase: “o ser é e o não ser não é”. Sendo o ser o que efetivamente existe, o não ser não existe. Na Teoria do Conhecimento o desdobramento desse conceito é que apenas o que existe pode ser conhecido, ou seja, identificado por nossa razão. O pensamento do que existe chega a coincidir com a própria coisa que existe. As demais percepções e experiências sensuais não são confiáveis, já que sempre podem se tratar de meras ilusões. Não há, portanto, no pensamento de Parmênides, mudança no universo. O dia não se transforma em noite. O dia é e a noite é. São coisas diferentes e imutáveis. O dia é sempre dia e a noite sempre noite. Esse conceito vale para todas as coisas e, logo, para o universo. O pré-socrático Parmênides trata, assim, de uma questão fundamental da Teoria do Conhecimento: a dualidade razão x experiência.
           Heráclito (540-470 a.C.), ao contrário, entendia que o universo estava submetido a um processo de mudança constante. O universo não era estático, mas profundamente dinâmico. No famoso exemplo do rio, diz, em nossas palavras: que não é possível um homem banhar-se duas vezes num mesmo rio, porque, na segunda vez, nem o homem nem o rio seriam os mesmos. Isto porque tanto o homem quanto o rio mudam, metamorfoseiam-se, a cada instante. O que é deixa de ser no momento seguinte. Há uma contínua união entre opostos o tempo todo e em permanente movimento e mutação. O novo envelhece. O frio esquenta. O inverno passa e vem o verão... Heráclito foi considerado o primeiro filósofo a pôr em evidência o termo: “dialética”, como concepção de realidade composta pela união e harmonia dos contrários, onde os opostos em conflito se aproximam, se coincidem, formando o uno, a unidade. Por exemplo: o caminho de ida e o de volta, o de subida e o de descida, formam, na verdade, um único caminho.


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