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Modelo Aristotélico de política x modelo Jusnaturalista de Hobbes



 

A – O modelo político aristotélico:

Aristóteles viveu na Grécia antiga entre 384 a.C a 323 a.C. Foi discípulo de Platão.

Aristóteles considera que o homem é um animal político. Dito de outra maneira, o homem é levado a viver em sociedade por sua própria natureza. Dessa forma, para o filósofo, o homem não conseguirá a plena satisfação e a felicidade fora da vida social. A vida social começou a partir do seu núcleo básico, a família, onde o homem, a partir de seus impulsos básicos, formou a primeira comunidade natural, com o objetivo de suprir as suas necessidades básicas do cotidiano, por exemplo: alimentação, segurança, sexo, etc. A união de diversas famílias, naturalmente, formou clãs, aldeias, etc. O objetivo dessas comunidades maiores seria a resolução de questões para além do cotidiano, por exemplo: a divisão do trabalho para produção de bens, defesa contra outras comunidades, etc. A união de várias aldeias deu lugar às cidades, estas já praticamente auto-suficientes e capazes de garantir uma vida boa e feliz aos seus habitantes.

Para Aristóteles, a felicidade humana está no cumprimento da sua finalidade no cosmos, que está todo organizado e no qual os homens, assim como tudo o que há no universo, tendem a uma finalidade e essa finalidade é a felicidade, o bem supremo da vida coletiva.  Essa é uma visão teleológica, que permeia todo o pensamento de Aristóteles.

 

B – O modelo jusnaturalista de Thomas Hobbes:

Thomas Hobbes nasceu na Inglaterra em 1588 e viveu até 1679.

Hobbes era um crítico do pensamento de Aristóteles. Para ele o Estado não é o resultado da natureza humana e a autoridade do rei não é obra de Deus. Hobbes foi muito influenciado pela geometria e pelas leis da física, fundada pouco tempo antes por Galileu Galilei. Tinha uma visão mecanicista do mundo e sobre essa visão estruturou seu pensamento.

Ao contrário de Aristóteles, Hobbes fundamenta sua reflexão no indivíduo e não na sociedade. Para ele o homem, no estado natural, isto é antes de estar em sociedade, está em permanente conflito com seus semelhantes. O homem é lobo do homem, escreveu.

Os homens buscam viver em sociedade apenas por interesse. Seriam basicamente dois os motivos: glória ou lucro. Assim a formação do Estado não é natural e sim artificial, em busca de um benefício próprio. O Estado é apenas um meio para a obtenção do seu fim (lucro ou glória). Ao contrário, de Aristóteles, para quem a política é um fim, para Hobbes é apenas um meio.

Hobbes pensa a política com base na natureza humana sempre hostil e violenta. Tomada pelas paixões. As paixões são, para ele, desejo ou aversão a algo. Os homens têm desejo a tudo que lhes dê prazer e aversão a tudo o que causa dor ou desprazer.  Esse movimento humano em busca da satisfação de seus desejos, ou seja, as paixões, é que explica a natureza humana. Essa explicação está fundamentada na física dos corpos, no estudo dos movimentos de Galileu.

Os homens, em Hobbes, no estado de natureza, ou seja, no estágio pré-social, gozam de total liberdade e igualdade natural entre si, tanto em termos de força como em termos de inteligência. Dessa forma todos têm direito a todos os bens e direito de usar de todos os meios para proteger sua vida (direito natural). Surge daí uma guerra perpétua de todos contra todos, inviabilizando a vida social. As paixões, no entanto, fazem o homem tender para a paz, em busca de uma vida mais segura e confortável. A lei natural, por outro lado, é uma regra básica estabelecida pela razão que obriga os homens a usar de todos os meios para conseguir a paz, uma vez que se permanecessem em guerra permanente, a própria existência de todos ficaria em perigo. Sendo o direito natural contraditório com a lei natural, ou seja, a busca pela paz é incompatível com o direito de possuir todas as coisas. Não resta, então, alternativa ao homem, a não ser abrir mão do direito natural em favor da paz.

Dessa forma, os homens transferem, por meio de um pacto, o direito que possuem sobre todas as coisas e de preservar a própria vida para o Estado. O Estado deve ser forte, para garantir a paz de forma a obrigar os homens a cumprirem o pacto. O Estado de Hobbes é repressor para que possa garantir a submissão de todos ao pacto social.

 

Em resumo, Aristóteles vê o homem como um animal social e o Estado como um fim em si mesmo, um desenvolvimento natural dessa característica. Já Hobbes vê o ser humano como naturalmente individualista e a partir disso o Estado seria totalmente artificial, um mal necessário, um meio para garantir objetivos individuais.

Enquanto para Aristóteles a pergunta a ser respondida é “como surgiu o Estado”, para Hobbes é “por que surgiu o Estado”.

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